Diario Popular / Geral / 19 profissionais de Saúde do SUS já testaram positivo para Covid-19

Às vésperas de completar três meses desde o registro do primeiro caso de Covid-19 em Pelotas, 19 profissionais de Saúde que atuam no sistema público já tiveram diagnóstico confirmado para o novo coronavírus. Os Hospitais Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) e São Francisco de Paula da Universidade Católica de Pelotas (HUSFP-UCPel) concentram a maioria das notificações.

No HE-UFPel, referência no tratamento da doença para toda a região, um boletim interno passou a ser emitido todas as quartas-feiras, com detalhes sobre testagem e razões para os afastamentos. Dados até o dia 17 deste mês apontam que cinco trabalhadores tiveram resultado positivo para a Covid-19. Outras 213 verificações - entre o exame RT-PCR e testes rápidos - deram negativo.

Outras estatísticas apresentadas no documento, entretanto, chamam a atenção. Desde o mês de março, 130 atestados foram apresentados em decorrência de Síndrome Gripal, não necessariamente provocados pelo novo coronavírus. Juntos, eles equivalem a 778 dias parados - revela o boletim. É como se, em média, cada um dos trabalhadores que precisou interromper as atividades tivesse permanecido seis dias em casa.

Ao ser questionada, a equipe da Unidade de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho do HE argumentou que os números são consequência de medidas imprescindíveis para controle e minimização do risco de transmissibilidade. "Os profissionais que realizam o atendimento direto aos pacientes estão sendo afastados mesmo apresentando sintomas leves, o que em outros anos não ocorreria".

E a explicação é comprovada pelo último relatório. Os atestados médicos de técnicos em Enfermagem e enfermeiros, por Síndrome Gripal, correspondem a 70%, se comparado aos outros cargos e setores da instituição.
Desde o mês de março, a ala Covid do Hospital-Escola já recebeu 58 pacientes com diagnósticos confirmados e suspeitos. Desse total, nove pessoas ocuparam leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

No HUSFP, os dez profissionais já voltaram ao trabalho

Até a tarde desta sexta-feira (19), dez trabalhadores do Hospital São Francisco de Paula já haviam testado positivo para a doença, desde o começo da pandemia. A instituição adotou um sistema de transparência e, diariamente, publica os dados nas redes sociais.

Ao comentar os resultados, o diretor de Assistência, Edevar Rodrigues Machado Júnior, assegura que o hospital tem pautado sua atuação sobre três pilares: seguir à risca o que ditam os protocolos quanto a isolamento e cuidados quando um profissional é diagnosticado com Covid-19, atender orientações do Comitê Interno de Prevenção e acatar ações estabelecidas pelo Plano de Biossegurança.

"Temos uma preocupação latente em desenvolver as melhores formas de contenção", garante. E lembra que, apesar de o HUSFP não ser referência para o atendimento ao novo coronavírus, o fato de o hospital ser porta aberta para toda a região em outros serviços, como hemodiálise e maternidade - inclusive de alto risco - não impedem que, eventualmente, o vírus possa circular pelo local, através de pacientes assintomáticos que não estão ali para tratar e investigar sintomas respiratórios.

Sem falar que o São Francisco de Paula também funciona como retaguarda ao Pronto-Socorro de Pelotas (PSP). Mais uma situação que o coloca em fragilidade e faz serem reforçadas as medidas de prevenção em higiene e limpeza e uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

O que dizem os outros hospitais que também têm contrato pelo SUS

- Santa Casa de Misericórdia
Até agora, três casos positivos foram registrados. Todos no mês de abril, ainda antes de o hospital receber os três pacientes da ala Covid - um com diagnóstico confirmado e dois suspeitos. Os três profissionais contraíram o vírus em viagens distintas, cumpriram o isolamento e não chegaram a transmiti-lo a colegas, que foram testados, mas negativaram - informa a Santa Casa. O hospital preferiu não especificar se os trabalhadores eram médicos, enfermeiros ou técnicos em Enfermagem.

- Beneficência Portuguesa
Até o momento, nenhum trabalhador da Beneficência Portuguesa foi infectado pela Covid-19. As equipes que tiveram contato com pacientes foram testadas e os resultados deram negativo. Uma das medidas administrativas adotadas pelo hospital, desde o começo da pandemia, foi o afastamento de funcionários do grupo de risco: com mais de 60 anos de idade, com duas ou mais comorbidades e gestantes.

Ao todo, 43 profissionais foram afastados, preventivamente; 13 da área de Enfermagem. As chefias dos setores ainda realizaram mudanças, como alteração em horários e alternância entre funcionários, com parte das equipes em home office e parte em trabalho presencial, através de revezamento.

A posição da prefeitura
A secretária de Saúde, Roberta Paganini, considera "aceitável" o número de 20 profissionais infectados em um intervalo de três meses, em Pelotas. Para reduzir os riscos de contaminação cruzada entre trabalhadores da Saúde e pacientes, a prefeitura chegou a tentar criar escalas para que profissionais que atuam em diferentes estabelecimentos de saúde pudessem organizar os horários de modo a trabalhar em cada momento do mês em apenas um dos lugares.

Por questões trabalhistas, pela escassez de profissionais e pela impossibilidade de manejar em escalas, inclusive, de outros municípios - onde muitos deles também circulam - a hipótese precisou ser descartada. O treinamento de paramentação e desparamentação de toda a vestimenta para quem atua na linha de frente do combate à Covid-19 foi uma das ações implementadas, para conter a disseminação da doença.

"Estamos nos adequando a todos esses cuidados. É tudo muito novo", afirma a secretária.